sexta-feira, 27 de março de 2009

Educando pela perspectiva da Diversidade

Adriano Caetano, 35, é formado em Filosofia pela UFC e faz mestrado em Sociologia, com um tema que ele define como “uma discussão sobre identidade na cultura social brasileira”. Compõe a equipe do GRAB há 5 anos e durante esse período, já participou de vários projetos e atividades relacionadas à prevenção, Direitos Humanos, gênero e diversidade sexual. Em 2008, Adriano foi um dos educadores que ministrou oficinas para os jovens do Projeto SAGAS, e nesta entrevista ele fala um pouco da juventude homossexual e HSH.

Como você acha que a juventude se relaciona com a homofobia? Ela combate ou reforça?
Ela combate muito mais que reforça. Na verdade, nós (a sociedade) temos ouvido pouco a juventude, e muito as Instituições. Quando vamos ouvir o Estado (e aí eu acho que o Estado ainda é muito homofóbico) falamos com os parlamentares. Quando ouvimos a Escola, conversamos com os professores. Quando se fala em religiões, ouvimos os padres, e por aí vai. Os jovens mesmo, nós ouvimos muito pouco, e quando nos voltamos para eles, muitas vezes é um discurso que reflete o que foi aprendido com essas instituições. Quando conversamos com a juventude no dia-a-dia e em suas práticas sociais, percebemos que há uma interação muito forte entre jovens gays e heterossexuais. Algo que talvez fosse impensável há 20 anos atrás, por exemplo. Temos locais em Fortaleza onde uma há uma freqüência jovem muito intensa e diversa, de várias tribos e orientações, e elas convivem muito bem entre si.


Quais as principais discussões que precisam ser inseridas entre a juventude homossexual e HSH?
Primeiro precisamos discutir questões básicas, que são as de gênero, identidade e corpo. A partir dessas questões é que poderemos desmembrar a homossexualidade. Se você não entender as questões de gênero (porque a mulher faz isso, porque que os homens fazem aquilo), só aí você vai entender o papel dos homossexuais na sociedade. É importante desconstruir esses papéis instituídos. Daí para compreender, por exemplo, porque existe o preconceito de dizer que o homem gay quer ser mulher, o que não é verdade. A partir dessas discussões, o jovem vai poder perceber sua identidade, trabalhar sua auto-estima, percebendo que ele não é anormal, e se reconhecer verdadeiramente como cidadão.


Como foi a experiência das oficinas com os jovens do SAGAS em 2008?
Foram muito positivas. Trabalhamos essas questões básicas (gênero, identidade e corpo). Retomando esse processo de reconhecer o gênero dessa pessoa, percebendo que as relações de gênero são construções e que não estão paradas no tempo. O que vai alterando essas relações são as Instituições (Igreja, Estado, Escola) e a sociedade. Se elas são flexíveis, então eu posso sim transar com homens, transar com mulheres. Quem vai me colocar em caixinhas”, é a sociedade. E daí discutir essa identidade: “Se eu fiquei com mulheres, eu ainda sou gay”? Como eles são jovens, eles estão muito abertos a essas discussões, que contribuem para trabalhar essa auto estima. As oficinas provocaram reflexões a respeito do que é ser homem e ser mulher e desconstruir diversos preconceitos. Os jovens homossexuais também estão inseridos nessa sociedade machista, homofóbica, racista e patriarcal, então eles também têm preconceitos que precisam ser trabalhados. Prevenção não é só entregar camisinha, tem também muitas outras questões, e elas foram abordadas nas oficinas. -

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